07 janeiro 2007

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coeur, fais ton chemin
oublie, tous les chagrins
(...)
viens, encore une fois
prends moi dans tes bras

je veux seulement oublier
emballe-moi sous les nauges
doucement vient le soleil
bonheur aprés l'orage.


RL


há músicas que, mesmo que as ouçamos depois noutros sítios e com outra gente (porque há algumas que conseguem desdobrar-se assim),vão sempre pertencer a quem no-las apresentou,a quem no-las pousou no colo,depois de as julgarmos perdidas, depois de nunca sequer termos sonhado existirem.

há músicas que nos embalam quando os braços que queríamos que nos rodeassem foram embora ou tardam em voltar, como someone to watch over me, tocado por b. mehldau; há músicas que nos fazem perder o medo, como escada sem corrimão, cantada pelo camané; há outras que nos levam ao alentejo, numa nota só como o limoeiro na terra de abrigo; há outras ainda que nos arrepiam por dentro, como bola de meia, de seu jorge,como palavras que nos beijam,por carlos do carmo com carlos martins.

e depois há as que nos perguntam pelo que andamos a fazer ou a adiar - are you the one i've been waiting for?, into my arms, green eyes, de nick cave; you must believe in spring, de bill evans; verdes anos, de carlos paredes; oxalá de madredeus, la llorona, de chavela vargas.

depois há as que, sóbrios ou ébrios já, nos fazem sempre sempre marejar o olhar : a noite passada, de sérgio godinho, beatriz, na versão de maria joão e mário laginha, give me a reason, de portishead,veja bem, meu bem, de maria rita, this house is empty now,com burt baccarah e elvis costello, sttrugle for pleasure,de wim mertens, if it be your will,de l.cohen,na versão de antony; if i had you, por diana krall; quiet letters, de bliss; j´arrive, de j. brel, estrela da tarde, de carlos de carmo; pomar das laranjeiras,de madredeus.


e depois há as músicas dos filmes(de a.hitchcock,p.almodovar,c.eastwood,m.scorcese e ontem a de igñarritu); e as músicas que ouvimos nos cafés e nas livrarias e depois vamos perguntar, descaradamente o que era isto, que gostei tanto?.

tão importantes como todas as outras músicas que já trazemos,a ressoar na cabeça, mesmo quando em silêncio, a ribombar no coraçao, quando escrevemos ou falamos,as que tamborilamos com os dedos das mãos,são que estão por vir, as que irei conhecer, sublinhar, repetir, repetir, repetir, até soar diferente,até soar límpido em mim o recado que me queiras dar tu, inscrito no que trarás debaixo do braço, no bolso do casaco ou na caixa branca rectangular onde desfila a banda sonora dos teus dias. mais as músicas que descobramos ambos,ignoradas pelos dois.importante também será a forma como saberemos estar em silêncio a ouvir o mesmo som ou em silêncio depois de todos os sons se terem calado. a música que se ouviremos para cozinhar, para ler banda desenhada ao sol estirados no chão, para escrever,escrever,trabalho ou cognac; a primeira música da manhã, que se ouve do banho e a da última festa no teu cabelo,música que se deixa também dormir, devagar.a música que se ouve dentro de uma fotografia ou quando se anda à procura dela.as músicas que nos passam pela cabeça quando o tobogan desce ravina abaixo e das das viagens estrada fora, mar adentro. a música do choro e do riso,a da dança, da tempestade e da bonança.a música que sossega o coração e afasta a dor, a que indica o caminho, a que leva embora e traz de volta.

mostra-me o que ouves tu, mostra-me assim what are you made of,como pergunta aquela publicidade de relógios.mostra-me quando quiseres, quando o tempo deixar. mas mostra, que quero ouvir, até ao fim, até ao osso, o que ressoa em ti, para perceber o que te faz ter, na mesma fracção de segundo, um sorriso rasgado e o olhar com toda a água das marés vivas de agosto na praia da apúlia. mostra, que te oiço, que te escuto. não trago pressa, nem urgência - apenas vontade de te ouvir a ti e o que é teu, no tempo que queiras e de que me dês notícia.

entretanto, trago comigo o que perdeste e que te pertence.quantas vezes as respostas para as perguntas que fazemos nos são oferecidas por outra pessoa que não aquela a quem perguntámos; quantas vezes os objectos voltam às nossas mãos vindos de lados inesperados.o que nos pertence, às nossas mãos nos há-de vir ter, dizia acertadamente a avó que enterrei há pouco tempo. não percebi o que ela dizia então, era demasiado nova para tanto; mas hoje sei que as coisas, quando importam,voltam, umas vezes tarde, outras a tempo, às mãos, aos lugares e aos corações a que pertencem - voltam porque as vamos buscar,voltam porque no-las trazem depois de as terem encontrado perdidas.


mar adentro in en el alféizar - evocaciones de un piano andaluz, por andrés márquez.

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