12 janeiro 2007

"verso ignorado"




queria sentar-me contigo no último degrau desta escada,deixar as sombras da grade fazerem-nos desenhos na cara,beijar primeiro o lado das sombras e depois o iluminado.queria depois dar-te um beijo e outro ainda, que se demorassem até ser tudo sombra e encontrarmos então no céu as constelações todas que guiassem nossos passos na escuridão.

falaremos a mesma língua,mesmo tendo lido as mesmas coisas, ouvidos os mesmos sons e pisado sempre este mesmo chão? retenho a imagem da mulher que perdoa (sem esquecer?)o homem que viaja sentado a seu lado; traz a cara voltada para o vidro e fita a paisagem que corre depresa do lado de fora; parece que é o lado de fora que está dentro de um aquário,de um casulo e afinal é o inverso; e depois,sem precisar sequer de olhar para o lado, encontra a mão do homem que a fita sem cessar. e segura-a, levemente, ele comove-se, não se sorri ele, sorri-me eu na cadeira.

hoje estou quase muda como a rapariga asiática desse mesmo filme,que escreve compulsivamente,quase não dou um pio.tanto mais difícil será sabermos qual é o verso que trazemos ignorado, fazermos entre as pontas soltas um laço clarificador? não me parece.anda daí.


"babel",de iñarritu.

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