olhar, ver, reparar ou fernando pernes
"se podes olhar, vê; se podes ver, repara".
fernando pernes levou-nos pela mão numa visita guiada a barcelona, com a fundação de serralves. e escrevo pela mão, porque, no meio de tanto e tão pouco que se diz sobre aqueles grandes que nos faziam vir até ali - antónio gáudi, joan miró e salvador dali, fernando pernes levava-nos seguros mas livres, a ver o que também ele tinha visto, a não termos medo de não vermos nada disso ou vermos outras coisas. deslizava na frente de quadros, de esculturas, de paredes, de janelas, com a leveza de um bailarino, parecia que mal pousava os pés no chão.mas dizia, em frases breves, aparentemente simples, seguras, o que cuidava que fosse importante. havia entusiasmo no que dizia, havia vontade de dar a conhecer e de partilhar. era muito magro (como as esculturas de giacometti), sobrava-lhe colarinho na camisa, ombros no casaco, fumava muito, SG gigante, se bem me lembro, tinha sempre o olhar perdido num horizonte diferente do nosso. via e fazia ver coisas nos quadros, nos gestos, no que estava fora deles; nunca mais fitei um quadro ou o que fosse da mesma forma. guardo o seu olhar enternecido e a sorrir-se, tímido, quando lhe agradeci a viagem e as suas palavras e os seus silêncios. segurou-me nas mãos, "ora essa, não tem nada a agradecer." tenho sim e é para a vida, suspeitei então, sabê-lo-ia mais tarde, do quanto seria revolucionária essa nova forma de olhar. quando, há alguns anos já, me perguntaram, frente à praça dos leões, como podia ver tanta coisa num quadro e depois, quando, de frente para esse quadro, pousado na parede branca aos pés da cama, me voltaram a perguntar como?, falei de fernando pernes, de barcelona e de como tudo começou.e talvez aí tenha transmitido algum do espanto, da curiosidade, da atenção, do olhar que recebi naqueles dias. tarde, digo daqui, muito obrigada.
do livro das evidências, epígrafe no ensaio sobre a cegueira, josé saramago.
fernando pernes levou-nos pela mão numa visita guiada a barcelona, com a fundação de serralves. e escrevo pela mão, porque, no meio de tanto e tão pouco que se diz sobre aqueles grandes que nos faziam vir até ali - antónio gáudi, joan miró e salvador dali, fernando pernes levava-nos seguros mas livres, a ver o que também ele tinha visto, a não termos medo de não vermos nada disso ou vermos outras coisas. deslizava na frente de quadros, de esculturas, de paredes, de janelas, com a leveza de um bailarino, parecia que mal pousava os pés no chão.mas dizia, em frases breves, aparentemente simples, seguras, o que cuidava que fosse importante. havia entusiasmo no que dizia, havia vontade de dar a conhecer e de partilhar. era muito magro (como as esculturas de giacometti), sobrava-lhe colarinho na camisa, ombros no casaco, fumava muito, SG gigante, se bem me lembro, tinha sempre o olhar perdido num horizonte diferente do nosso. via e fazia ver coisas nos quadros, nos gestos, no que estava fora deles; nunca mais fitei um quadro ou o que fosse da mesma forma. guardo o seu olhar enternecido e a sorrir-se, tímido, quando lhe agradeci a viagem e as suas palavras e os seus silêncios. segurou-me nas mãos, "ora essa, não tem nada a agradecer." tenho sim e é para a vida, suspeitei então, sabê-lo-ia mais tarde, do quanto seria revolucionária essa nova forma de olhar. quando, há alguns anos já, me perguntaram, frente à praça dos leões, como podia ver tanta coisa num quadro e depois, quando, de frente para esse quadro, pousado na parede branca aos pés da cama, me voltaram a perguntar como?, falei de fernando pernes, de barcelona e de como tudo começou.e talvez aí tenha transmitido algum do espanto, da curiosidade, da atenção, do olhar que recebi naqueles dias. tarde, digo daqui, muito obrigada.
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