12 abril 2005

falar ao ouvido

é curioso como,ao telefone,deixamos estranhos falarem-nos ao ouvido e depois, os que nos são próximos,às vezes,nos parecem falar de tão longe.hoje um estranho, a quem chamara para resolver coisa séria, acabara a confessar que gostava de almoçar sentado no relvado da Biblioteca Nacional,como se assim e por isso fosse um homem do campo.e falámos da BN, porque não me apercebera eu, tantas vezes deliberadamente perdida em Lisboa, depois de um almoço de sexta-feira,que a Cinco de Outubro acompanhava longamente a República e alcançava o Campo Grande pelas costas de mais um edificío da CM,cheio de papel.a minha desorientação fez-me gargalhar ao telefone.
no fim da conversa, já à varanda,lembrei-me do que me escrevera aquela mulher do sul,"um sintoma de liberdade é o som de uma gargalhada". pensei em todas as vezes que me ri para me libertar do medo das alturas,da tristeza do fim,da raiva da injustiça e do desconsolo da perda - em todas essas vezes, a gargalhada foi o caminho da liberdade e não apenas sinónimo dela.

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