05 março 2007

ganhar fome de gente? ganhar lastro

no outro dia falavas da importância de ficares sozinho, para ganhares fome de gente, para voltares a sentir necessidade de ver, ouvir e abarcar quem geralmente te rodeia.

eu tenho sempre fome das pessoas de quem gosto. deve ser aquela sempre insatisfação faz de mim menina sôfrega. tenho sempre vontade de mais, tenho sempre vontade de ouvir mais, ler mais, de dar e receber mais.e não é porque o que recebo me deixe insatisfeita – é porque não me cansa, não me farta, não me entedia o que me dizem, o que me fazem ouvir.há pessoas que ouvia a vida toda, em silêncio ou aos berros, ao som da música ou do desfolhar das páginas, dos lençóis ou dos abraços. não preciso de ganhar distância física para ter depois saudades e vontade de recuperar a proximidade.

eu não tenho estado sozinha para ganhar fome de gente – tenho estado sozinha para ganhar lastro, como a broa do pão. para ganhar solidez, firmeza, chão, para ser outra que não aquela que tenho sido, para que os outros ganhem fome de mim. ser melhor pão, ser broa melhor. menos crua, com mais sabor.

eu tenho-me assim, para ver se cresço, para eu ser a única coisa que me faz verdadeiramente falta, para que nada me faltando se não eu, possas assim aproximares-te tu : que assim não terás medo que precise de ti, que assim não terás receio que precise do teu pão para matar minha fome. e poderei eu matar a tua? a broa de pão que se parte da esqeuina da mesa, de codêa rija, que protege o interior macio e que se esfarela na boca, a broa que se come quente, a sair do forno ou já com dias, com a marmelada escura ou esmiuçada no café. é essa broa que quero ser.


"a louca da casa", de rosa montero, edições asa.

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