21 julho 2005

existir para lá dos livros

termos os mesmos livros à cabeceira, a kilometros de distância,faz de nós cumplices da mesma almofada? e lermos as mesmas linhas, leva-nos ao mesmo sonho? eu queria era deixar os meus livros para trás e ir sentar-me a teu lado,a espreitar pelo teu ombro a página do mesmo livro, eu volto a página e tu lês, na seguinte trocamos, eu leio mais depressa, mas a tua voz é mais bonita.lermos o mesmo livro, a preguiçar no mesmo sofá, na mesma relva, debaixo do mesmo pinheiro,a vivermos a mesma história,sem os preocuparmos em a escrever noutro lado, que no lado de dentro do coração, rente à pele.sublinho a minha pressa em te rever como quem faz um sulco no chão,como arado de lâmina precisa que traça um limite humano para a saudade. no fim do verão, regressarás para onde? ao menos, o tempo que passo a trabalhar voa, voa, voa.cansado corpo, até à exaustão,o sono chega afinal devagar, como se fosse necessário recuperar forças antes de se entrar nos sonhos.onde vamos hoje, pelas páginas do mesmo livro?


josé gil, "portugal,medo de existir".
keith jarrett, the köln concert.

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