02 novembro 2004

vestir a pele

atéia,dou comigo em serralves aos domingos,quando não me perdi na noite do labiryntho.à saída, com um soco no estomâgo dado pelos desenhos e pelos recados de paula rego, pensava se as pessoas que se alinhavam, perfiladas, até à porta de ferro forjado da fundação, iriam sair dali tão risonhas como queriam entrar.

lembrava-me das caras vazias,olhos encovados,mãos retorcidas, de quase todas as mulheres,mesmo até da que,triunfante,vestia a pele do lobo derrotado e esfolado,sentada numa poltrona vermelha.

anos antes -depois de um desgosto de amor, primeiro e último, daí em diante,ia-me sempre embora primeiro -, encontrara numa exposição do CAM da gulbenkian alguns desenhos e pinturas que revi agora.esta mulher pinta e desassossega como ninguém.já então advertia que há mágoas e dores maiores que aquelas,ridículas,que trazemos connosco.e que há quem traga consigo mágoas e dores como as nossas e assim, perante aqueles espelhos,a nossa memória vem à tona da pele e arde, arde, arde...

quando saí,lembrei-me nas fotografias de nan goldin,vistas também ali.trouxe ambas pela mão.

"paranoid android" tocado por brad mehldau.

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home