04 maio 2006

um prado de malmequeres poupado às perguntas






alentejo,parque natural do guadiana,abril de 2006.

03 maio 2006

"can a dead heart be broken?"

sempre gostei de cinema de animação.há dias,meses já?,enfiei-me na sala escura à procura de uma gargalhada minha,que não derivasse de disparate que o dissesse eu.a dada altura,o vilão da fita pergunta "pode um coração morto estilhaçar-se?".sei hoje que sim.

nesse filme, a menina do mundo dos mortos chega, por momentos,a roubar um dos vivos para perto de si. mas o apelo do outro lado é maior, fica sozinha a menina - mas o seu coração, apesar de empedernido,por morto,voltara a bater. é como se recompusesse para logo se partir de novo.restou-lhe o consolo de concluir que era como jarra que se estivesse estatelado pelas escadas abaixo,e depois conseguisse,ainda assim,suportar flores e água;embora não as lograsse guardar,por não lhe serem dirigidas.

no outro dia, em santa vitória,em beja, uma mulher sábia lembrava "quem é feliz nas flores não o é nos amores."e depois há quem falhe ambos, pensei-o eu, disse-mo ela, como blimunda que me lesse à transparência.

passeávamos por entre árvores enxertadas, limoeiros que se revelaram laranjeiras (que água com que se rega uma árvore nunca se pode perder),por entre rosas sem espinhos e vasos de erva cidreira e orégãos.como em poucas vezes da minha vida, soube manter-me calada e não ripostei ao que me afirmaram certeiramente.

daí a dias, perdida em direcção ao pulo do lobo, prados vastos de malmequeres desafiavam-me a fazer-lhes a pergunta que me consumia.adivinhei que faria batota e desfolharia resmas de flores, até que estas me dissessem que não era verdade o que adivinhara a senhora, que eu falhara todos os vasos da varanda virada a sul,não o amor de então : bem me quer, muito?

ri-me, por dentro, da ironia,de provocar a falha ritmada das pétalas dos malmequeres, à procura da interrupção da infelicidade dos amores.deixei as flores intactas,a resposta trouxe-a comigo: há amores que valem a pena por nos roubarem, segundos breves que sejam,ao clube dos corações mortos.e mesmo que seja para se estilhaçarem de novo.


the corpse bride”,de tim burton.
não quero que vás à monda”,ronda dos quatro caminhos,com orquestra de cordas de córdoba e coros alentejanos.